Tu não me dizes quem és, mas – sabes? – logo se vê! Os códigos ditam todas as hipóteses, as tuas hipóteses. São verdades absolutas que te revelam. Um dado momento te concebeu assim; podíamos dizer: homem honesto e de poucos esforços, à boleia de um cargo negro. Leve semblante, a vida feita! Leve semblante, grave atenção: que todas as coisas querem sair de si, foi o que viste. Assim te concebeu o momento. E talvez mais por isso, do que pelo embrião que foste, pré-destinado ao seguimento de um bem- sucedido projecto de família, chegues também a ser alguém, uno e independente, mais útil à gente! Porque todas as coisas querem sair de si e tu nota-las, movem-te, tu respondes. Como é generoso e exigente criares em função da obra, do que ela te pede! E que tipo de decisão é essa? Não decides, não é? Tens mesmo que fazer alguma coisa. Transformas. E assim vives, rendido à tua condição de descendência e natureza, em função da verdade e no limbo da aceitação. E é certo que, mesmo que o não possas questionar ou negar, isso requer grande coragem e dedicação, e é isso o que te leva do preto à luz. E é também daí que sai a maior beleza. A vida desfeita: todas as prospecções e futuros sãos te caiem por terra, e assim, então, te salvas do destino consagrado na cor do carro ou na genética do corpo! Tu não me dizes quem és, mas logo se vê. Há intenção no teu trabalho. Disso já falámos: pões-te à escuta, examinas com atenção, experimentas e logo dás a forma e o valor ao que de si quis sair. Que belo! Resolves a obra e logo a dispensas, ou ela te dispensa, e segues caminho. Grande vida! E que fatalidade essa de seres artista. As minhas honras!, que vejo em ti o esforço de quem assim nos oferece grandes e belas coisas: estes jogos onde nos pões dentro, como agora, e que se revelam, em todas as suas hipóteses! Valente!