2022

Morre Longe

Appleton Square

Lisboa

Túnel da Xerox
Fiberglass and Acrylic Ink
85 x 65 x 60 cm
Exhibition View
Exhibition View
Exhibition View
Túnel da Avenida dos Estados Unidos da América
Fiberglass and Acrylic Ink
85 x 65 x 60 cm
Exhibition View
Canto do Cisne
Fiberglass and Acrylic Ink
85 x 65 x 60 cm

“We are programmed to receive.
You can check out any time you like,
But you can never leave…”
― The Eagles, Hotel California

Seis capacetes de motocicleta superdimensionados dispersos pelo espaço expositivo. Cada um tem uma pintura na sua viseira frontal, as imagens retratadas nas pinturas têm origem em frames de vídeo. O filme, de onde são retirados, explica Tiago Alexandre, foi feito por ele mesmo, na sua mota, a atravessar a cidade a toda a velocidade, da sua casa ao Casino de Lisboa e vice-versa. Alexandre complementa – “o caminho até lá é cheio de vida, adrenalina, frenesi, esperanças e certezas. O caminho de volta também é em alta velocidade, mas o desespero é o sentimento central, junto com a vergonha, a preocupação, a velocidade agora é suicida.’

A prática artística de Tiago Alexandre inspira-se nas realidades do quotidiano: a vida nas ruas, os objetos domésticos, a cultura motociclística, o consumismo, são alguns dos assuntos que sem querer descobriu e transmutou através de várias experiências. São obras que espelham o quotidiano contemporâneo. O entendimento é o material primário e depois o gesso, a tinta e todas os outros suportes que traz a bordo. Em última análise, o conteúdo é sempre a imaginação humana.

De certa forma, pode-se dizer, que os capacetes representam o anonimato. Como uma máscara, estes cobrem a identidade e desfocam a personalidade, fortalecendo o sigilo ao esconder o que está por trás. Simultaneamente, bloqueiam o que vem de fora, ruídos, distrações, como uma cápsula protetora ou um artefato de isolamento.

As obras desta exposição representam o tempo congelado e suspenso, assim como a ansiedade, juntamente com uma esperança saudosa. Refletem a negação da natureza de uma compulsão que torna a obra capaz de ser lida como uma história de estranhamento moderno. Amamos o que nos destrói, porque nessa destruição nos sentimos verdadeiramente vivos. Estamos constantemente perdidos entre a busca do prazer, pela qual se arrisca a vida, o caráter e a razão; e a tentativa desesperada de escapar de memórias torturantes (boas e más) e uma sensação final de solidão insuportável – sentida por todo ser humano em algum momento da vida e, finalmente, um pavor de algum destino estranho iminente – a morte, é claro, o que mais?

A esperança vem num pequeno autocolante que o último capacete da exposição contém, em língua japonesa lê-se: ‘O Canto do Cisne’, uma referência a uma antiga crença de que o cisne branco vive completamente mudo ao longo de sua vida, mas pode criar uma bela e triste música antes de morrer. A obsessão é um trato exclusivo do ser humano, não tenhamos dúvidas, para uns mais intensa para outros mais branda, mas chega a todos em algum momento. A beleza é, que aprendemos a conviver com ela e através dela, em alta velocidade sem dúvida – desafiando as leis da gravidade com nossos capacetes.

Luiza Teixeira de Freitas

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